--- Quero escrever tantas coisas. Mas hoje isso é diferente. Quero apenas pôr no papel aquilo que estiver mais claro em minha mente. Não quero nem resumir e nem confundir através de minhas palavras; tenho tido esse imenso desejo de esclarecimento [ou auto-esclarecimento].
--- A vida pode ser tão rica quando olhamos todo o processo que nos levou até o atual momento. Inúmeras perdas mas ganhos irreparáveis, indelével e eternamente configurando aquilo que somos.
--- E me percorre o corpo essa vontade incontrolável de revolucionar(-me). As ações do dia-a-dia podem parecer muitas vezes pequenas no fazer cotidiano, cotidiAndo, continuando andando... mas quando vislumbramos todo o processo podemos compreender como cada instância de vida moldou plenamente aquilo que se está.
--- Diante disso, esse vulcão revolucionário ronca dentro de mim, acordado, vivo e borbulhando incessantemente... E a cada dia que passa mais indeterminado se torna a espessura suportável da minha “crosta terrestre”. Por vezes enfrento conjunturas emocionais desfavoráveis com tremenda coragem, calma e agilidade para mudar meus humores ou amenizar a agressividade de humores alheios. A cada dia que vivo fica mais fácil enfrentar meus próprios demônios, porque cada vez melhor os conheço. Mas ao mesmo tempo que o lacre do vulcão se torna mais denso, mais forte e agitada fica a minha ânsia por uma erupção.
--- Quanto tempo hei de suportar controladamente tamanha agressividade dos humanos contra eles mesmos? Quão mais insuportável pode se tornar a desigualdade social cada vez mais contrastante? Quão pior podem se tornar as novas tecnologias, que nasceram pra nos servir mas funcionam pra nos manipular como rebanhos mercadológicos, verticalizando incessantemente neste movimento de globalização imperialista nas mais diferentes sociedades e culturas do globo, num processo de aculturação, domesticação, sugestão e controle.
--- Porque meus inimigos não possuem rostos mas mesmo assim sei, intuitivamente, que, no fim das contas, possuem somente sete cabeças?
--- Teimoso sempre fui. Meus sonhos valem tanto quanto o primeiro seio de um recém nascido, o primeiro sabor, o primeiro beijo de uma mãe ou de um amor. E mesmo vivendo neste absurdo de labirintos burocráticos eu teimo em sonhar, viver no meu hoje a minha utopia de ser solidário e amigo... companheiro e compreensivo. Vivo a paz sem pressa porque sou consciente da felicidade que me nutre, alimento que me faz sorrir ao céu iluminado numa tarde chuvosa, mesmo preso em um congestionamento lento, espremido num banco de van, misturado com o povo, no meio de uma caótica Copacabana.
--- Às vezes é difícil e fico triste mesmo sentindo em mim a forte sabedoria viva de que este estado emocional faz parte do caminho que me leva à felicidade que tanto almejo e a cada dia crio. Pela janela da van, preso no engarrafamento, observo pessoas fotografando o Drummond eternizado naquele frio bronze de costas pro mar, representação do ser que foi apaixonado mais pela caótica Copacabana que pelos mistérios da soberania do mar na maioria das paisagens. Drummond olhava Copacabana, o povo e sua sabedoria oculta. E ainda olha, ao menos ali, naquela representação, posando com a mesma figura para milhões de fotografias que vão para álbuns, seja de papel, plástico, ou de pixels publicados num site qualquer. E de repente ver todas aquelas pessoas a fotografá-lo, quase fazendo fila pra posar ao lado do poeta, começou a me doer. Doía o fato de eu ver muito mais pessoas fotografando o poeta que lendo sua obra, ou que ao menos pudessem todas aquelas pessoas, se não ler, viver parte daquelas idéias que o poeta expressava. E de repente me contento ao constatar que todas aquelas pessoas, todas as pessoas do mundo, estão fadas à sua condição de Humanas. Todas um dia choram, um dia amam, um dia lutam, um dia choram de alegria, outro aprendem, outro sorriem de glória, outro erram, e aprendem novamente, e amam novamente, todas, inevitavelmente.
---Que será isso de ser um poeta à inventar sentimentos numa investigação místico-científica de todas as pessoas e naturezas e tempos e emoções? Que será isso tudo que sou?
---Repito: estou à procura de esclarecimentos. Pois que vivê-los é o único jeito de me acalmar, e abro bem os meus olhos, disposto a enxergar muito mais que profundidades, planos e movimentos. Vejo idéias em tudo, vivas! E como toda idéia que um dia é criada, eu crio minha própria idéia de realidade, à todo instante. Mas não temo sonhar alto, não tenho medo de altura, e nem de horizontes muito extensos, a felicidade não me espanta, apenas me atrai como a gravidade faz a água pingar no meu rosto numa tarde de sol e chuva no Leblon, e eu abro o sorriso assim como o sol faz com o horizonte. Quero viver minha vida a criar plenitudes e vivê-las, criando-me e recriando-me infinitamente. Porque sou todo o movimento da vontade de conhecer cada vez mais intimamente a minha própria felicidade, pois sei, que só assim hei de espalhar no mundo concretamente isso que sonho nele encontrar... Mas só eu sei como é este sonho... E algumas das almas mais íntimas são capazes de conhecê-lo, comigo, e este sonho me faz viver e quem me conhece sabe disso instantaneamente... E assim vivo... acordado, atenta_mente em sintonia com que há de mais feliz em viver.