segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sinergias do Tempo



Agradecendo; engrandecendo

Fico a observar cada detalhe de teu rosto. E você dorme e nem sabe que estou ali, te amando. Talvez saiba, seus lábios carnudos quase sorriem, como se estivesses também sonhando na mesma intensidade que vibram minhas retinas a namorar tua luz. As montanhas por teu corpo são minha maior fonte de mistério. Curvas, retas, pêlos, cicatrizes, poros, a íntegra geologia do teu ser, essa história viva e a tua plácida respiração, como um bebê crescido, criança madura, juventude à flor da pele, no estado existencial que irradia o que há de mais vivo em ti.

Nada mais pode ser tão evidente quanto a perfeicão que crio através dos devaneios que sou capaz de viver com você. Epifanias, tão vivas quanto as dúvidas que se apagam. A vida, de repente, parece que se tornou mais transparente. As cores estão mais nítidas, sinto cada profundidade, cada curva e tom; o movimento de cada coisa que miro, e vibro, vivo, vivas todas as coisas, todas as coisas tão vivas quanto eu, que jamais se repetirão, essa genuína e eterna virgindade de todas as coisas.

O silêncio entre nossos olhos é rico e intenso, parece nele caber todo o preenchimento do meu ser. Me visto em meu próprio corpo, talvez inédito, completamente livre e feliz, nu e satisfeito. Conheço cada respiração do universo, e um chôro, quase que emergindo de solidões a muito amortecidas pela névoa de uma sinistra infância forçosamente esquecida ou reinventada, sobe pelos meus músculos, invadindo meus tecido e células e fluindo junto com o magnetismo do meu sangue por toda a homeostase de minha orgânica existência.

O suor do prazer parece levar consigo o mesmo sal das lágrimas que não ousei chorar em infância. Criança forte que aprendeu cedo a amarrar o rosto como que para se compreender, pura necessidade de encontrar a capacidade própria do auto-controle. Força, que invadindo na tentativa de segurar os tremores, os medos e as dores, me machucava ainda mais. E essa força bruta e acumulada de repente se dissolve numa nova força intensamente mais poderosa: a força do movimento, a força do agora.

O suor pinga por nossos corpos brilhantes. Sais e seres misturados, movimentos confundidos, objetivos sintônicos, felicidade intrínseca.

Sempre falei ou escrevi muito sobre o amor, mas só agora entendo o quão imaturo sou, ou talvez seja, o amor, incondicional e essencialmente habitado por mistérios grandiosos.

Nascem incontáveis seres humanos em incontáveis hospitais, casas e tribos por todo o mundo. Morrem outras tantas incontáveis pessoas, únicas por natureza. E eu morro e nasço para aprender de novo que nada sou se não o movimento que no mundo imprimo, cada movimento que o mundo me faz e eu recrio-o.

Parece imprescindível que se aprenda muitas e muitas vezes a não se saber de nada. Açudes que desaguam-se em rios velozes até o dinamismo máximo de se dissolverem em oceano, ondas, correntezas e marés, e o mundo todo em nossos lábios, o terremoto de nossas línguas, tsunamis internos, salivas que dissolvem nossos hábitos, renovam nossos hálitos nos habitando com este imenso calor e esse requinte luxuoso de uma superioridade de existência, um afago da inocência na sabedoria, unidas pela pureza translúcida da mais envolvente alegria e bondade. Sinto-me grato, infinitamente, infinita...mente, agradecido e imenso.

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