segunda-feira, 26 de novembro de 2007
O que te motiva?
Na cidade não sinto outra vocação senão à dos palcos, a de ser portador de mensagens, ou à das telas cibernéticas, nos anarco-blogs, fotologs e toda esta “liberdade aprisionada” em pixels e ilusões não menos reais que as que inspiram-nas. Procuro uma outra vocação no entanto, dando atenção à cada cantinho da sociedade, me imaginando nas tarefas mais bestas, mas que, quem sabe, poderiam, em algum caso, vir a me fazer alimentado além de intensamente feliz. Pensei em ser pedreiro ou marceneiro, mas isso eu só gostaria se morasse na roça, na Urbem tudo é poeira e barulho, seria um purgatório. Pensei em ser jardineiro, mas há muita fuligem, as plantas são rotineiramente desrespeitadas, e penso que também seria imensamente insatisfatória esta função na Urbem. Outra função era a de veterinário, que cheguei a ingressar em faculdade pública, mas abandonei o curso após o primeiro período. O mesmo ocorreu com biologia, não fazia o menor sentido ganhar dinheiro à custa de inúmeros animais que seriam sacrificados pra que eu concluísse os estudos, uma literal barbárie, sem contar as inúmeras negligências no desrespeito total com as todas as outras criaturas; o preciosismo consumista aliado à febre PET das grandes cidades é extremamente doentio, e não queria de modo algum aquilo em minha vida... Enfim, adiei meu sonho de estudar biologia. Então me veio à mente a idéia de ser escritor. Mas não queria escrever para um jornal, já que eu nunca os leio, sequer tento, não gosto, totalmente inútil para mim. Foi então que pensei em literatura. Os poemas começaram a invadir-me enquanto eu ainda estava na biomédica. Depois de toda ventania de versos espásmicos e inúmeras epifanias catárticas, descobri o teatro infantil amador e pulei fora, fui dar sorriso e idéias boas à crianças carentes. Foi sensacional, uma experiência riquíssima recheada de alegrias indescritíveis. Então a paixão pela arte dramática me tomou conta e me subiu à cabeça. Entrei pra faculdade de artes dramáticas. Para administrar a fúria irracional da minha família contra a liberdade e a arte, fui paradoxalmente cursar jornalismo, mas não durou muito e migrei para cinema onde continuo num ritmo instável. Cinema é uma paixão que me inflou a partir das artes dramáticas, depois unindo-se com meu amor pela fotografia, que vem desde a infância, encontrei um espaço onde arte, liberdade, dinheiro e indústria se encontram. Mas eu mesmo, ainda não me encontrei assim tão intimamente. Tenho boas idéias para filmes mas não consigo ainda inclinar-me em uma área específica do cinema. Sou apaixonado por todo o processo, com exceção de alguns setores da parte de produção. Mas em toda a parte da criação sou intrigado, curioso, apaixonado, intenso, criativo. Tendo a desejar fazer filmes extremamente autorais, mas isso desvincula da indústria completamente, o que faz o dinheiro ir junto, e arte sem público, me diga, o que é?
No mais, tenho nos palcos o sorriso que cabe perfeitamente entre minhas bochechas inexistentes.
Uirá Felipe
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