segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Imprescindível viver...























A cidade é tão imensa e expansiva se desgrudando de uma pólis
por via duma estrada para imendar numa nova manifestação urbânica densa, infinitamente, todos estamos conectados, e eu, ali, de passagem naquela avenida fulgurosa e cheia de presa e abandono... Passando, correndo, voando pra fazer aquilo que me é de mais natural: teatralizar. Mais uma viagem só pra levar sorrisos e chaves para sonhos à cetenas de crianças sedentas por luz em sua criativas imaginações. Lá no palco são elas que brilham com seus olhos criadores, suas gargalhadas pertencentes, seus gestos e feições condescendentes. Gostaria de ter mais espaço nesse tempo onde só existem esses sorrisos, essa sede juvenil, e esses pensamentos, esse ator e observador.

















Me recolho no camarim, organizando muito mais as ideias que os figurinos bagunçados. Trago à vida toda minha chama de criar, assim, espontaneamente com a luz da vontade de ver vida acontecendo, historia se desenrolando, emoções pipocando, infância e futuro a dançar num só fluxo de melodias empolgantes. Busco no silêncio afastado e solitário do canto ao fundo do camarim mais distante o lugar e o momento onde eu pudesse de alguma forma compreender toda aquela magia que era imprescindível não reconhecer. Busco racionalizar inúmeras pequenas fórmulas, tentando traduzir toda alquimia orgânica presente na troca entre aqueles seres cheios de energia vibrante e eu. E de repente uma angústia, um deslocamento em meu peito. Levanto, olhando tudo em cada detalhe, como se cada visão me fosse ser inesquecível, mesmo assim, tão nu, no meu momento de isolamento, ali, sem nada de fato acontecer se não dentro do corpo, vibrando, nas emoções novas, nas epifanias tontas de se acreditar e ver-se o sonho concretizar-se só depois de já estar voando, só depois de estar com o vento a jorrar essa indefinição a que teimamos chamar de vida, só então é que percebo: meus pés já nem tocam o chão...












Meu pés tocam a madeira do palco. É hora de colocar o figurino e literalmente entrar em cena. Numa cena que ansiosa me aguarda, mas que já está acontecendo, sem nem palco, iluminação, nem nada. Aguardo igualmente ansioso, ouvindo a vibração vinda do outro lado das cochias. E tudo num piscar de olhos, só acontece depois que me dou conta. É tão perfeito que nem tem duração nem nada. Como um bloco de vida que naquele curto período se instala com a mesma densidade de anos de existência. A estrada, e o caminho até chegar ali. O caminho que todas aquelas crianças percorreram de mãos dadas com suas mães. O caminho de cada vida, de cada uma, de cada historia por se fazendo... o Caminho ali, bem à meus pés que tocam o palco. E eu procurando nos camarins algum entendimento, na tontura embriagante de tremendas alegrias. Não há o que entender, apenas compreendo, vivendo, não-entendendo; que a felicidade é simples e inexplicável quanto é um olhar, um amanhecer, uma vida, uma foto; e o desconhecido a se fingir de infinito nos figurinos da eternidade...

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